Cresci ouvindo que, para emagrecer, precisava comer menos. “O segredo é comer de tudo um pouco, só que pouco”. Na teoria, isso parecia lindo, só que, na prática, nunca funcionou pra mim. Passei anos tentando implementar essa estratégia e me sentindo frustrada por não conseguir, com a sensação de “não ser capaz” de estabelecer o aspirado autocontrole. Dei muitas voltas e errei bastante até entender que eu não precisava necessariamente comer menos. Eu precisava comer melhor! Vou explicar o que isso significou, na minha experiência pessoal.
Enquanto tentava fazer dietas hipocalóricas eu sentia muita fome. Aquela sensação simplesmente não passava, terminava uma refeição já contando as horas para a próxima. Eu admirava as pessoas que eram capazes de comer pouco, tentava imitar, até o ponto em que me descontrolava e saia devorando o que aparecia pela frente. Não raro, com os armários vazios e apenas a “sopa da dieta” na geladeira, me dirigia até o mercadinho mais próximo e comprava caixas de chocolate. Era assim que afogava as mágoas, matava a fome e me recompensava pelo esforço que havia feito no dia anterior. Em seguida, o arrependimento vinha acompanhado da decepção com meu fracasso. E o ciclo da sopa recomeçava.
A partir do momento em que cansei da montanha-russa do engorda-emagrece, aceitei que precisava fazer mudanças significativas nas minhas refeições. Passei a entender melhor a composição dos alimentos e perceber que o que eu colocava no prato não era suficiente pra trazer a saciedade necessária para acabar com aquela fome. Como açúcar eu já sabia que não deveria comer, nesse processo, a retirada dos grãos foi extremamente importante. Não apenas porque eliminei o glúten da dieta, o que me trouxe benefícios imediatos nos sintomas digestivos, mas também porque me permitiu aumentar a ingestão de boas fontes de proteínas e vegetais variados – os grãos precisavam ser substituídos por alguma coisa, afinal. Foi apenas com a retirada desses alimentos integrais que percebi a grande parcela que ocupavam nas minhas refeições.
Num primeiro momento, senti irritação, cansaço, dores de cabeça, fraqueza, mau humor, tudo aquilo que caracteriza a abstinência de carboidratos. Eu nem estava fazendo uma very low carb, apenas retirando os excessos! Mas, como estava informada e consciente do processo, segui firme para ver aonde o novo caminho me levaria. Naquele início, nunca passei fome. Eu me permiti comer mais quantidades dos alimentos corretos pra evitar a sensação de ansiedade causada pelo estômago vazio. Mas eu passei vontade! Muita vontade! E aprender a controlar aquelas vontades, diferenciando-as da fome real foi um dos primeiros grandes ganhos do meu novo estilo alimentar. Aprendi que vontade vem e passa. A gente não pode viver de caprichos, cedendo a todos os impulsos. Com a fome real controlada, começou a ficar muito mais fácil conter o hábito de mastigar o tempo todo.
A segunda grande surpresa que me ocorreu foi a libertação dos lanches. Antes, era a rainha dos lanchinhos! Não saía de casa sem minha sacola térmica recheada de opções que considerava “saudáveis”. Lembro do dia em que estava no meio do caminho para o trabalho e resolvi voltar pra buscar a tal lancheira, quando percebi que havia esquecido. Sentia muito medo de passar fome, porque sabia que me renderia aos chocolates. Eu trabalhava em Pesquisa e Desenvolvimento de chocolates, era rotina estar cercada por diversas tentações no escritório, fábrica e laboratório. As semanas foram passando até que comecei a perceber que estava levando a lancheira para passear. Comecei a voltar pra casa com ela intacta, simplesmente porque esquecia, pela falta de fome. Lembro também do dia em que consegui, conscientemente, sair de casa sem ela – deu tudo certo. Aquilo foi uma grande libertação!
Ao contrário do que ocorre com muita gente, eu não tive um emagrecimento rápido. Demorou pelo menos um ano pra eu perceber alguma diferença em medidas. Mas isso é tema pra outra postagem… O que me motivou a continuar foram esses pequenos ganhos durante a caminhada. Sim, eu queria emagrecer! Mas o que eu queria de verdade era colocar um ponto final naquele ciclo doentio de dietas malucas fracassadas. Queria uma mudança definitiva na minha alimentação, que me trouxesse benefícios a longo prazo. Pra quem estava habituada a viver deliberadamente em restrição calórica, restringir alguns alimentos foi relativamente simples. Não quero dizer que foi fácil, mas também não era fácil continuar como estava! Como dizem por aí: “Ficar como está é difícil. Mudar é difícil. Escolha o seu difícil”. Então escolhi e, pela primeira vez, senti que seria capaz de manter a nova rotina que estava estabelecendo.
Comer melhor, pra mim, significou reduzir ao máximo o consumo de alimentos ultraprocessados, grãos integrais e refinados. Passar a fazer minhas compras na feira, no açougue e peixaria. Deixei o supermercado apenas para os produtos de limpeza. Aprendi a focar na simplicidade da comida de verdade e descobri que podia cozinhar. Todas essas descobertas fizeram parte de um processo que se tornou prazeroso, leve e divertido. Focar na qualidade dos alimentos, em vez de quantidade, foi um ponto crucial na minha construção de hábitos saudáveis. Isso não significa que quantidades não importam, mas que o aspecto qualitativo dos alimentos é fundamental para que possamos, em um segundo momento, decidir conscientemente a respeito de suas quantidades.