Zero açúcar, só que não.

Nota: esta não é uma crítica a uma marca específica, apenas um exemplo do que a grande maioria pratica. Será que a nova norma de rotulagem de alimentos vai resolver isso?

Eu leio todos os rótulos. É um passatempo! Esses dias, passeando em um empório, me deparei com estas duas geleias de uva lado a lado: uma convencional, outra zero adição de açúcar. Ambas da mesma marca e mesmo sabor, o que facilita a comparação.

Geleia “tradicional” e geleia “zero adição de açúcar”.

Como de costume, virei as embalagens para comparar suas listas de ingredientes e informações nutricionais. Para minha surpresa, a versão “zero” contém mais carboidratos que a tradicional!

Geleia tradicional com 10g de carboidrato na porção, versus 11g na geleia zero.

Vamos aos ingredientes:

TRADICIONAL: suco de uva, açúcar, glicose de milho, pectina cítrica, goma carragena e ácido cítrico.

ZERO: suco de uva, suco concentrado de maçã, estabilizante pectina da fruta e agente de firmeza fosfato tricálcico.

A começar pela versão tradicional, que na minha opinião já é um desastre. Uma fruta extremamente doce, concentrada pela evaporação, e adicionada não apenas de açúcar, mas também de xarope de glicose. Não surpreende que quase metade da sua composição seja carboidrato. Lembrando que isso é feito pra comer com pão!

Agora, a versão “zero” me deixou particularmente irritada. Esta, sim, é destinada a um público com restrições. Eu consigo imaginar diabéticos comprando isso por acreditarem ser uma opção melhor. O problema não está naquele 1g a mais de carboidratos declarados, em comparação à geleia tradicional, o problema é passar a impressão de que é saudável por não conter o açúcar da cana, mas conter ainda mais açúcar, proveniente do suco concentrado de maçã!

Os rótulos ainda não estão de acordo com a nova norma de rotulagem, há um prazo para a adequação. Mas veja que mesmo na nova resolução, por algum motivo, (??) a definição de açúcar inclui apenas mono e dissacarídeos e suco de fruta concentrado não é considerado açúcar adicionado, apesar de ser repleto de mono e dissacarídeos. Não faz sentido. Açúcar de fruta só não é considerado açúcar pela legislação, decorrência de uma definição arbitrária e burocrática que nosso metabolismo ignora – ele não sabe diferenciar de onde vêm glicose e frutose.

Pra você passar raiva comigo, segue um trecho da RDC Nº 429, DE 8 DE OUTUBRO DE 2020.

“Não estão incluídos na definição de açúcares adicionados:

d) os açúcares naturalmente presentes nos vegetais, incluindo as frutas, inteiros, em pedaços, em pó, desidratados, em polpas, em purês, em sucos integrais, em sucos reconstituídos e em sucos concentrados.”

Apesar disso, o fabricante não pode seguir usando quantidades ilimitadas de sucos concentrados de frutas doces com a intenção de adoçar um produto, e ainda declarar zero açúcar adicionado. Existe um limite de açúcares totais para que o produto possa suportar essa alegação. Mas tenho minhas dúvidas quanto ao cumprimento desta norma nos próximos meses. Portanto, sempre que você ler “zero açúcar adicionado” preste o dobro de atenção à lista de ingredientes e observe a quantidade de carboidratos totais na informação nutricional – você vai ser surpreender, mas ao menos poderá optar por deixar o produto na prateleira.

Se você quer ler mais análises como esta, consulte a biblioteca das Descobertas do Mês, que contou com 12 edições que publiquei durante o ano de 2022. Acesse o índice clicando AQUI.

34 respostas

    1. Cara Sara! Fique “tranquila”. Moro em um país dito desenvolvido onde as mesmas artimanhas são usadas na rotulagem. Melhor defesa: educação e difundir a informação correta. Assim como a indústria usa conhecimento, façamos o mesmo. Saudações!

    2. Já passei muito por isso mas agora aprendi!!Consumia um pão low carb que tinha farinha de mandioca!!Usava produto zero que continha matodextrina aff!Não me pegam mais kkkk fiquei esperta!

  1. Por esse tipo de produto e desinformação que eu agradeço sempre por você nos endiabras-te tanto.
    Eu consumia tanta coisa que não me fazia bem mais tinha um “rótulo seguro”
    Obrigada Sari

  2. Veja depois o da Geléia Ritter! Eles tem dois produtos: Zero adição de açucar e o diet. Eu fiquei na dúvida de qual comprar mas fui ler o rótulo: O Zero adição de açúcar é feito com Maltitol. O diet com xilitol. Poxa vida, um diabético poderia comprar errôneamente! Se eles tem a versão tradicional e uma diet, para que criar essa terceira versão com maltitol? parece que é para enganar o consumidor.
    (obs: no site consta o rótulo com xilitol na zero açucar. Mas no vidro está lá escrito maltitol. Ou seja, a pessoa realmente pode comprar totalmente enganada)

  3. Quanto vale uma vida! Este irresponsável era para ter o título cassado e uma multa para nunca mais esquecer! Inclusive 5 anos estudando sobre as complicações do diabetes! Sem falar em ser punido em dar palestras gratuitas principalmente aos menos favorecidos! Isto é um crime! Nunca mais faria isto! Infelizmente só funcionava assim! Obrigada Sari, valeu o alerta!

  4. Obrigada por essa informação.
    Tu fazes diferença, nos alertando e nos mostrando o cuidado que devemos ter ao comprar produtos industrializados.

  5. Parabéns, Sari! Obrigada!
    Geleia: fervo morangos picados com um pouco de xilitol ou eritritol e fervo bem em uma panela grossa.
    Fica deliciosa a geleia e mais confiável.

  6. Olá Sari !
    Muito obrigada por compartilhar tudo conosco. Estava sentindo falta.
    Fico surpresa com as indústrias, como eles nos enganam. Hoje sou a louca dos rótulos, leio tudo.
    Beijos

  7. Que pais é este. Por que tanta enganação. Quanta irresponsabilidade. Fico igualmente irritada. Faço das suas as minhas palavras. Obrigada, Sari, por todos esclarecimentos compartilhados. Ainda assim, acho bem complicadinho traduzir estes rótulos. Melhor evitar sempre q possível e focar ma comida de verdade.

  8. Graças a Deus que descobri que muitas coisas que erroneamente usava pensava que era bom por ser diet. E é uma pena ainda ter marcas que continuam com esses enganos

  9. Mas gente… sem palavras
    Isso é criminoso, pois uma pessoa diabetica, totalmente leiga, consome sem nem saber o tamanho do risco que corre, ainda mais julgando que ninguém come a porção referência né, sempre o consumo é maior.
    RDC e suas brechas infinitas…

  10. Ainda bem que temos a Sari para abrir nossos olhos contra essas falcatruas.
    Para nas ensinar e dar ferramentas para não sermos mais os próximos otários dessa indústria.
    Obrigado!

  11. Gostei muito do artigo e das informações.
    Atualmente, ler os rótulos tem sido uma necessidade.
    As vezes nos sentimos mal com algum alimento e nem sabemos o que tem nos causado aquilo, mas ao rastrearmos o que comemos, já identificamos onde está o erro.
    Educar-se é fundamental para ter uma vida mais tranquila e saudável.

  12. Oi Sari,
    Como sempre ótimo conteúdo e informação!!!
    Aprendi com vc a ler rótulos e nunca deixo de le-los antes de comprar os produtos. Por muitas e muitas vezes os devolvo as prateleiras, infelizmente, pois não cumprem o que propõem.

  13. Obrigada pelas informações! O diabético pode ser enganado pelas mensagens do rótulo. Contigo aprendi a olhar o verso do rótulo, as informações dos ingredientes. Volta com as tuas descobertas do mês, por favor!!!!!!

  14. Realmente é revoltante!!! Fico triste por quem ainda não esta atenta à leitura dos rótulos e compra pela propaganda da parte frontal do produto…

  15. Sari, cada vez mais “descaco mais e desembalo menos”. Estes produtos Light são muito fake, comida de verdade nada tem a ver com isto!!! Grata por mais um “abre olhos”.

  16. Eu compartilho da sua revolta com esse tipo de rótulo. Percebo como tem diabéticos que não fazem a mínima ideia do que de fato estão ingerindo, é realmente comprar lebre por coelho. Triste!

  17. Difícil tb é conseguir ler os rótulos. Quase obrigatório ter uma lupa nas mãos! Deixei de consumir produtos diet, zero etc. Tudo fake, um veneno para nós diabéticos. Obrigada por nos ensinar a entender a rotulagem.

  18. A indústria tem profissionais pagos só para fazer lobby junto às instituições reguladoras. Nós, consumidores, temos nossos próprios empregos pra manter, filhos, boletos, etc… Muito difícil nos organizarmos pra fazer a mesma pressão em prol da nossa saúde. Então, ainda bem que ao menos podemos tomar decisões bem orientadas por pessoas como você.

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